A Competência Linguística
- Pedro
- 10 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
O CONHECIMENTO LINGUÍSTICO COMO VISTO PELA GRAMÁTICA GERATIVA
Negrão et al. ao procurarem explicar a maneira como o conhecimento da língua é adquirido, afirmam que o falante de uma língua desenvolve um sistema de conhecimento, representado em sua mente. Nesse contexto, segundo as autoras, o conhecimento é entendido como um “conjunto de hábitos comportamentais, ou seja, um sistema de tendências que nos levam a certos comportamentos linguísticos em determinadas condições e não em outras” (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2005, p. 113).
A respeito da teoria Gerativa, um de seus objetivos, trata de investigar o conhecimento linguístico do falante nativo.
A base da dicotomia entre competência e performance se apoia na distinção entre o conhecimento linguístico, que corresponde à competência, e a habilidade linguística, que equivale à noção de performance.
Conforme Negrão et al., não é necessário ser um jornalista habilidoso para falar ou escrever em português, todos os falantes nativos de língua portuguesa possuem “os mesmos julgamentos a respeito das sentenças possíveis e impossíveis do português” (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2005, p.114).
Todos os falantes nativos são dotados de uma mesma competência linguística, o conhecimento sobre a mesma gramática, o que difere é a performance (habilidade). Nesse caso, entende-se “gramática” como “o sistema de princípios que constrói as sentenças produzidas e interpretadas pelo falante de uma língua” (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2005, p.115).
Para exemplificar, ao explicar um conceito como a estilística, que envolve as figuras de linguagem, Machado de Assis procura descrever de forma singular:
“As palavras têm sexo [...] Amam-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas é o que chamamos estilo.”
Como segundo exemplo, Manuel Bandeira, escreve sobre a correspondência trocada entre seus avós:
Cartas de Meu Avô
A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente…
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.
Cartas de antes do noivado…
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.
Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala…
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.
No caso, se o poema fosse reescrito de uma forma mais comum, provavelmente, teríamos um texto semelhante ao seguinte:
“Ao entardecer, nesse tempo chuvoso, leio sozinho as antigas cartas de meu avô que escrevia para minha avó. Fico feliz por descobrir que eles se amavam durante o início do namoro. Já que, nos últimos tempos, eles não demonstravam se amar tanto assim.”
No quesito da expressão artística, Negrão et al. explicitam que:
[...] a poesia não é o rompimento das regras que constituem esse conhecimento linguístico. [...] Ao contrário, como sempre dizia Carlos Franchi (c.p.), a poesia reflete a habilidade que certos falantes têm de manipulação de seu conhecimento linguístico dentro de seu limite máximo, ou seja, até o ponto a partir do qual as regras que compõem esse conhecimento passariam a ser violadas. (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2005, p.115)
Vale ressaltar que desvios ou violações por princípios que possam ocorrer na linguagem do cotidiano, são mais frequentes por questões de performance, do que por competência.
REFERÊNCIAS
DOMÍNIO PÚBLICO. O Cônego ou Metafísica do Estilo. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000272.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2017.
NEGRÃO, E.; SCHER, A.; VIOTTI, E. “A competência linguística”. In: FIORIN, J.L. (org.) Introdução à linguística. Objetos Teóricos. vol 1. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2005. pp.113-116.
REVISTA BULA. Os 10 melhores poemas de Manuel Bandeira. Disponível em: <http://www.revistabula.com/564-os-10-melhores-poemas-de-manuel-bandeira/>. Acesso em: 06 nov. 2017.
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