REVISÃO HISTÓRICA SOBRE OS ESTUDOS DA LINGUAGEM
- Daniel Oliveira
- 22 de ago. de 2017
- 3 min de leitura

Embora a Linguística seja uma ciência moderna, o interesse do homem pela linguagem tem se manifestado por diversas razões e em diferentes épocas, desde a Antiguidade até os dias atuais.
Os primeiros estudos linguísticos remetem ao século IV a.C., quando os gramáticos hindus sistematizaram o sânscrito, para que os textos sagrados do Veda não sofressem alterações. Dessa forma, estudaram a linguagem por motivos religiosos, com o objetivo de “estabelecer pela palavra uma relação íntima com Deus” (Orlandi, p. 8). Nesse período, destacam-se os trabalhos de Panini em Doutrina das palavras, os quais “foram descobertos pelo Ocidente no final do século XVIII” (Petter, p. 12).
Na Antiguidade greco-romana, as análises eram direcionadas, sob uma perspectiva filosófica, para a relação entre a palavra e o significado: “ se as palavras imitam as coisas ou se os nomes são dados por pura convenção” (Orlandi, p. 8). Essa questão foi discutida por Platão na obra Crátilo.
Já Aristóteles, nas obras A Poética e A Retórica, estudou elementos relacionados à estrutura linguística e, de acordo com Margarida Petter (p. 12), desenvolveu uma teoria da frase, distinguindo partes do discurso e enumerando categorias gramaticais.
No século II a.C., surgiu a gramática grega, tekhné grammatiké, de Dionísio de Trácia, a qual concebia que “gramática é a arte de ler e escrever bem” e considerava a língua escrita superior à língua falada, devido às obras clássicas da Literatura. Também seguindo essa visão, destaca-se o latino Marco Terêncio Varrão, autor da obra De língua latina.
No período da Idade Média, os modistas consideravam a estrutura das línguas una e, portanto, que as regras gramaticais eram iguais para todos os idiomas. Além disso, consideravam a autonomia da gramática em relação à lógica e, com base nessa concepção, “procuraram construir uma teoria geral da linguagem” (Orlandi, p. 9).
A partir da Reforma Protestante, no século XVI, os livros sagrados passaram a ser traduzidos para diversas línguas, ainda que o latim fosse muito prestigiado. De acordo com Petter, “viajantes, comerciantes e diplomatas traziam de suas experiências no estrangeiro o conhecimento de línguas até então desconhecidas” (p.12). Devido a essa realidade, o primeiro dicionário poliglota, de Ambrosio Capelino, foi publicado em 1502.
Os estudos linguísticos dos séculos XVII e XVIII foram influenciados pelo Racionalismo francês. Nessa época, os pensadores compreendiam a linguagem “enquanto representação do pensamento” (Orlandi, p. 11) e fundada na razão. Em 1660, ocorreu a publicação da Gramática de Port-Royal (de Lancelot e Arnaud), a qual serviu de modelo para diversas gramáticas do século XVII (Peter, p. 12). De acordo com Orlandi, o objetivo dos estudiosos do século XVII era alcançar a língua-ideal, isto é, a língua universal, lógica, sem ambiguidades.
No século XIX, surgiu a gramática histórico-comparativa, que trouxe grandes contribuições para os estudos da linguagem. Segundo Peter, o método histórico-comparativo se interessa pelas línguas vivas, em oposição aos estudos abstratos das gramáticas gerais do século XVII (p.12). O marco desse período é a publicação da obra Sobre o sistema de conjugação do sânscrito, de Franz Bopp, em 1816.
Nessa obra, Bopp apontou semelhanças entre o sânscrito, grego, latim, persa e germânico, o que resultou na ideia de famílias linguísticas, visto que essas línguas possuíam uma relação de parentesco. Com base nessas relações entre as “línguas-filhas”, foi possível chegar à língua-mãe, o indo-europeu. Enquanto as gramáticas gerais buscavam a língua ideal, a Linguística Histórica buscava a língua-mãe, as origens (Orlandi, p. 14).
Em 1916, século XX, é publicado o livro Curso de Linguística Geral, que contém as ideias do suíço Ferdinand de Saussure, no entanto a obra foi escrita com base nas anotações de dois alunos que participaram do curso do linguista na Universidade de Genebra.
É importante ressaltar que, antes de Saussure, os estudos da linguagem sempre estiveram atrelados a outras áreas do conhecimento (como a lógica, a filosofia, a histórica, ou a crítica literária). Todavia, a partir da publicação de seus conceitos, surge a Linguística Moderna como ciência autônoma que busca investigar os fenômenos que envolvem a linguagem verbal humana (Petter, p. 13).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ORLANDI, Eni P. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 2013.
PETTER, Margarida. “Linguagem, língua, linguística”. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002, pp. 11-24.
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