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A​ ​TRISTE​ ​PARTIDA​ ​-​ ​PATATIVA​ ​DO​ ​ASSARÉ

  • Davi, Diane, Erica, Matheus, Pedro
  • 1 de nov. de 2017
  • 2 min de leitura

Setembro passou, com oitubro e novembro

Já tamo em dezembro.

Meu Deus, que é de nós?

Assim fala o pobre do seco Nordeste,

Com medo da peste,

Da fome feroz.

A treze do mês ele fez a experiença,

Perdeu sua crença

Nas pedra de sá.

Mas nôta experiença com gosto se agarra,

pensando na barra

Do alegre Natá.

Rompeu-se o Natá, porém barra não veio,

O só, bem vermeio,

Nasceu munto além.

Na copa da mata, buzina a cigarra,

Ninguém vê a barra,

Pois barra não tem.

Sem chuva na terra descamba janêro,

Depois, feverêro,

E o mêrmo verão.

Entonce o rocêro, pensando consigo,

Diz: isso é castigo!

Não chove mais não!

Apela pra maço, que é o mês preferido

Do Santo querido,

Senhô São José.

Mas nada de chuva! tá tudo sem jeito,

Lhe foge do peito

O resto da fé.

Agora pensando ele segui ôtra tria,

Chamando a famia

Começa a dizê:

Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,

Nós vamo a São Palo

Vivê ou morrê.

Nós vamo a São Palo, que a coisa tá feia;

Por terras aleia

Nós vamo vagá.

Se o nosso destino não fô tão mesquinho,

Pro mêrmo cantinho

Nós torna a vortá.

E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,

Inté mêrmo o galo

Vendêro também,

Pois logo aparece feliz fazendêro,

Por pôco dinhêro

Lhe compra o que tem.

Em riba do carro se junta a famia;

Chegou o triste dia,

Já vai viajá.

A seca terrive, que tudo devora,

Lhe bota pra fora

Da terra natá.

O carro já corre no topo da serra.

Oiando pra terra,

Seu berço, seu lá,

Aquele nortista, partido de pena,

De longe inda acena:

Adeus, Ceará! […]

Em A Triste Partida, poema em que o escritor nordestino Patativa do Assaré canta sobre sua terra natal, o Ceará, há diversas marcas de variedade linguística.

Neste caso, apresenta-se variação diatópica, proveniente da região Nordeste do Brasil, pois o poema conta o lamento do eu lírico, que migra de sua terra natal em razão da seca na região.

Destaca-se expressões como “descambar”, usada aqui no sentido de “chegar”, “em riba”, que significa “em cima” e “vagá”, o que quer dizer “vagar, andar sem rumo” .

Nesse poema, há muitas variantes linguísticas que caracterizam um grupo social, sendo assim, um aspecto da variação diastrática. No nível morfológico, já que é o mais frequentente, por exemplo, temos a substituição do “l” pelo “r”, como em “vortâ”, “mêrmo”; a supressão do morfema “-r”, em “Começa a dizê” e “Vivê ou morrê”; e a supressão do “lh” em “famia” e “vermeio”, em vez de “família” e “vermelho”.


 
 
 

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